terça-feira, 18 de outubro de 2011

O que é a Filosofia? Uma boa resposta...





As nossas capacidades analíticas estão muitas vezes já altamente desenvolvidas antes de termos aprendido muita coisa acerca do mundo, e por volta dos catorze anos muitas pessoas começam a pensar por si próprias em problemas filosóficos — sobre o que realmente existe, se nós podemos saber alguma coisa, se alguma coisa é realmente correcta ou errada, se a vida faz sentido, se a morte é o fim. Escreve-se acerca destes problemas desde há milhares de anos, mas a matéria-prima filosófica vem directamente do mundo e da nossa relação com ele, e não de escritos do passado. É por isso que continuam a surgir uma e outra vez na cabeça de pessoas que não leram nada acerca deles. (…)

A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E ao contrário da matemática não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas, e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.

A preocupação fundamental da filosofia é questionar e compreender ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensar nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?» Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «o que é um número?» Um físico perguntará o que constitui os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma acção boa ou má?»

Não poderíamos viver sem tomar como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento, linguagem, bem e mal, a maior parte do tempo; mas em filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objectivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudar. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma actividade de certa forma vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.

Texto retirado de Que Quer Dizer Tudo Isto?, de Thomas Nagel (tradução de Teresa Marques, Gradiva, 1995)

4 comentários:

  1. De facto, uma grande definição da Filosofia.
    É por isso que a Filosofia destingue-se de todas as outras ciências. Enquanto outras ciências baseiam-se em factos que não são justificados, a Filosofia tenta saber a verdade por de trás de todos os factos que o Homem e o Universo detém.

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  2. Não sei quem fez este comentário mas deixo duas notas:

    - As ciências (de que ciências estás a falar? Exatas?)normalmente baseiam-se em factos justificados, elas não questionam é o significado desses factos

    - a Filosofia procura a verdade mas também o sentido e valor das coisas, do homem etc.

    Ismael Carvalho

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  3. Stor, um filósofo coloca as questões e procura as respostas, e quando encontra as respostas justifica-as e exemplifica-as.
    Então um filósofo jamais poderá ter atituedes dogmáticas, visto que quando nos recusamos a discutir um assunto e a apresentar quaisquer razões sólidas, estamos a afirmar um dogma.
    Certo?

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  4. Sim, de certa maneira tens razão. Normalmente a atitude filosófica deve ser aberta e não dogmática ou preconceituosa.

    Gostei!

    Sempre que comentares identifica-te no fim.

    Ismael Carvalho

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