O QUE É A FILOSOFIA?
Magníficos
alunos, é difícil explicar em poucas palavras o que é esta disciplina nova. É
como explicarmos quem somos. É sempre difícil explicarmos quem somos. Acabamos
por contar a história da nossa vida, dos nossos pais, quem são os nossos
amigos, etc. Com a Filosofia
acontece o mesmo. A Filosofia, deste lado do mundo onde vivemos, o mundo
ocidental, ficou conhecida justamente por filosofia
ocidental e teve origem na Grécia no séc. VII a.c e portanto já tem uma
longa idade, cerca de vinte e sete séculos de história.
Uma forma de
tentarmos perceber o que é a Filosofia é compreendermos o significado da
própria palavra. Embora não seja suficiente, compreender a origem da palavra e
o seu significado dá alguma ajuda. A palavra
Filo - sofia significa «amor ao
saber» e tem origem numa palavra grega, já perceberam porquê… Assim a
Filosofia procura investigar o mundo e a vida, formulando determinadas questões ou problemas e produzindo teorias e argumentos para esses problemas.
O que é o
bem e o mal? Qual é o sentido da vida? Será que somos livres nas nossas ações?
O que é a beleza? O que é a arte? São problemas filosóficos que não encontram
resposta nas outras ciências e cabe à Filosofia clarificar e analisar
que conceitos estão envolvidos nestes problemas.
Vejam o seguinte texto:
A filosofia
é uma atividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua
característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A atividade dos
filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os
argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filósofos também
analisam e clarificam conceitos. A palavra «filosofia» é muitas vezes usada num
sentido muito mais lato do que este, para referir uma perspetiva geral da vida
ou para referir algumas formas de misticismo. Não irei usar a palavra neste
sentido lato: o meu objetivo é lançar alguma luz sobre algumas das áreas
centrais de discussão da tradição que começou com os gregos antigos e que tem
prosperado no século XX, sobretudo na Europa e na América.
Que tipo de
coisas discutem os filósofos desta tradição? Muitas vezes, examinam crenças que
quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tempo. Ocupam-se de
questões relacionadas com o que podemos chamar vagamente «o sentido da vida»:
questões acerca da religião, do bem e do mal, da política, da natureza do mundo
exterior, da mente, da ciência, da arte e de muitos outros assuntos. Por
exemplo, muitas pessoas vivem as suas vidas sem questionarem as suas crenças
fundamentais, tais como a crença de que não se deve matar. Mas por que razão
não se deve matar? Que justificação existe para dizer que não se deve matar?
Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, que quer dizer a palavra
«dever»? Estas são questões filosóficas. Ao examinarmos as nossas crenças,
muitas delas revelam fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia
não só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos, como ajuda a
clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. Ao longo desse processo
desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto
leque de temas — uma capacidade muito útil que pode ser aplicada em muitas
áreas.
Desde o
tempo de Sócrates que surgiram muitos filósofos importantes. (…) A história da
filosofia é, em si mesma, um assunto fascinante e importante; muitos dos textos
filosóficos clássicos são também grandes obras de literatura: os diálogos
socráticos de Platão, as Meditações, de Descartes, a Investigação sobre o
Entendimento Humano, de David Hume e Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche,
para citar só alguns exemplos
Qualquer
estudo sério da filosofia terá de envolver uma mistura de estudos históricos e
temáticos, uma vez que se não conhecermos os argumentos e os erros dos filósofos
anteriores não podemos ter a esperança de contribuir substancialmente para o
avanço da filosofia. Sem algum conhecimento da história, os filósofos nunca
progrediriam: continuariam a fazer os mesmos erros, sem saber que já tinham
sido feitos. E muitos filósofos desenvolvem as suas próprias teorias ao verem o
que está errado no trabalho dos filósofos anteriores. (…)
Nigel Warburton, Elementos
Básicos de Filosofia, Lisboa: Gradiva, 2007